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Trilhas interpretativas: instrumento metodológico para conexões de saberes

Projeto aprovado pelo PROEXT/MEC com o objetivo de realizar a conexão entre escola e cultura, por meio de cursos e ações de extensão - direcionada aos professores de geografia da rede estadual de ensino tendo a trilha interpretativa como um instrumento metodológico (Coordenador: Prof. Eguimar Chaveiro).

PROJETO

  1. CARACTERIZAÇÃO E JUSTIFICATIVA

 

 

Resumo

 

Este projeto visa a conexão entre escola e cultura, por meio, de cursos e ações de extensão - direcionadas aos professores de geografia da rede estadual de ensino – tendo a trilha interpretativa como um instrumento metodológico capaz de criar envolvimento cultural, uma vez que, ela promove o encontro de diferentes instituições, consequentemente, de diferentes olhares; possibilita usar de vários tipos de cultura: a escolar ou científica; a popular, as culturas alternativas, as culturas (re)significadas, os patrimônios materiais e imateriais; extrapola os muros das escolas; por fim; promove (re) encontro dos diferentes agentes socioculturais em espaços urbanos de significância histórica, política e sociocultural. 

 

Justificativa

 

A cultura é um atributo humano mediante a qual os grupos sociais e os sujeitos representam o mundo, a si mesmos, estabelecem comunicações uns com os outros, geram identidades, diferenciações, constroem artefatos materiais e imateriais.  Por isso, acompanha e matiza tudo que é humano, a alimentação, a moradia, os modos de falar, as maneiras de ver, de perceber, de ideologizar, as táticas de defesa e os modos de gerar utopias Ela ocorre de maneira variada no tempo e no espaço e serve às instituições de controle ou de libertação, inclusive as instituições de ensino.

Dentro da perspectiva da libertação que a escola hoje se abre para pensar que o sujeito que ensina e o sujeito que aprende são sujeitos culturais que, por isso, recebem formações via mídia, modo de vestir, gírias, jeito de consumir. O processo globalizante existe dentro e fora da escola, mesmo sendo fragmentado.

Desse modo, a escola poderá averiguar os sentidos culturais de seus sujeitos, no intuito de promover uma educação integrada e significativa, pois assim, alterará convicções, modos de representação e estabelecer críticas ao status quo. Se a escola ignorar a cultura de seus sujeitos, o seu papel de tramitar o educativo fica profundamente prejudicado.

Por isso além de elaborar uma leitura da cultura e de sua diversidade, deve criar situações culturais que envolvam sujeitos, as trilhas interpretativas é uma proposta que visa esse envolvimento, já que ao promover o encontro de diferentes olhares e interpretações sobre os lugares, ela possibilita a conexão entre a escola e a cultura.

Toda ação humana, mesmo não sendo consciente para alguns, para outros com certeza é intencional e determinante para o atendimento de nossas necessidades. Sejam elas políticas, sociais, econômicas, culturais, sentimentais, religiosas e educacionais. Isto que dizer que nenhuma ação humana é inócua. Essa lógica se aplica na elaboração, produção e execução de ações de extensão.

A educação é uma ação consciente e intencional - que consegue mediar o conhecimento adquirido e/ou concebido no processo de construção da humanidade. Por isso ela pode (re) transmitir, (re) produzir e/ou transformar os conhecimentos acumulados e as práticas socioculturais de uma sociedade. De maneira que busque o respeito e a liberdade de expressão, às vezes coibidos pelo autoritarismo, repressão e pela resistência de incorporação de novas concepções.

 

Pressupostos iniciais

 

 As trilhas interpretativas tiveram origem na tradição oral dos programas educativos nos Parques Nacionais dos Estados Unidos, no final da década de 1950. Freeman Tilden – filósofo e dramaturgo estadunidense – foi um dos responsáveis pela sistematização da interpretação ambiental. Segundo ele a interpretação ambiental consiste em “uma atividade educativa, que se propõe revelar significados e inter-relações por meio do uso de objetos originais, do contato direto com o recurso e dos meios ilustrativos, em vez de simplesmente comunicar a informação literal” (TILDEN apud CARVALHO, 2002 p.108).

   Desde então as Trilhas Interpretativas fazem parte das práticas pedagógicas formais e informais em escolas, universidades, parques temáticos, ONG’s e outras entidades. E se apresentam como uma alternativa metodológica capaz de promover uma atividade que aproxima os sujeitos de uma realidade invisível em seu cotidiano, uma realidade que não é percebida, sentida e vivida. Como explica Guimarães (2008):

 

Ao percorrermos uma trilha interpretativa descobrimos relações de coincidências e de complementaridades solidárias entre e com outros grupos humanos: aprendemos a perceber, experienciar e a interpretar realidades da realidade, vivenciar paisagens na paisagem. Estas experiências nos propiciam várias leituras de uma mesma realidade ambiental considerando a análise e a interpretação das diversas dimensões paisagísticas, onde temos ainda a identificação de níveis de percepção ambiental, tanto individuais quanto coletivos, a determinarem a gênese de imagens, representações, atitudes, atributos e valores relacionados à paisagem e aos seus lugares.

 

 

Interpretar é elemento essencial nas trilhas interpretativas. A intenção é que, ao trilhar, o sujeito interaja com o ambiente e consiga perceber por meio da paisagem que o lugar está carregado de significados e, por conseguinte, é fruto do processo de construção histórico, social, espacial e cultural das relações e ações humanas.

Nestes termos, as trilhas interpretativas apresentam-se como uma metodologia educacional capaz de estreitar estas relações. Os recursos pedagógicos e metodológicos  das trilhas não só viabilizam ações eficientes, como também são fáceis de serem executados. Vale ressaltar que o conhecimento aprofundado do lugar a ser trilhado é fundamental, por isso, ensino e pesquisa além de preceder à prática, propriamente dita, fazem parte do processo de construção da ação de extensão. 

 A seguir apresentaremos uma experiência de Trilha Interpretativa realizada na Praça Universitária em 2007.

 

Trilhando na Praça Universitária

 

O cenário: Praça Universitária. A data: 22 de outubro de 2007. Os trilheiros: 32 estudantes das 2ª e 3ª séries do ensino médio e 2 professoras da Escola Estadual Murilo Braga. Os mediadores: 4 estudantes e  pesquisadores do Iesa e da ONG Cultura, Cidade e Arte. Tempo previsto de duração: 60 minutos. O roteiro: uma trilha circular organizada em cinco estações de parada .

Ao iniciarmos o evento, nós, mediadores, fizemos uma breve exposição do que significava a Trilha Interpretativa e qual o objetivo com aquele trabalho. Após a exposição perguntamos aos trilheiros o que a Praça Universitária representava para eles - a  intenção era perceber qual o grau de conhecimento e /ou pertencimento deles com a praça – isto porque a trilha precedeu de pesquisas bibliográficas e de campo que revelaram a partir de estudos e  entrevistas que, até então, uma Praça Universitária com um grande valor histórico e sociocultural para a população goianiense. Ousamos pensar que a Praça Universitária poderia ser considerada como um “pulmão” para a cidade de Goiânia.

As respostas nos surpreenderam. Para 20% deles a praça significava lazer; para 15% conhecimento e patrimônio cultural; para 15% tranqüilidade, natureza, ou, conforme palavras de Djavan, “um bom lugar pra ler um livro”; mas, para 50% - a metade - a praça não representava “nada”, era apenas uma praça como tantas outras. Mais um olhar se revelava sobre a Praça Universitária. A praça, como um espaço vazio, um lugar invisível, pelo menos no mapa mental desses jovens.

Esta constatação nos remete a duas hipóteses. A primeira é entender que a multiplicidade de signos e símbolos que permeiam as paisagens das grandes cidades, representados por praças, monumentos públicos, ruas, arquitetura, dentre outros, ou são ignorados ou passam despercebidos diante dos olhos de grande parte dos sujeitos que transitam por eles cotidianamente. Pode-se dizer que este fato ocorre em função da vida acelerada e atribulada inerente aos moradores das metrópoles. Nesse sentido, Bauman (2006) explica:

 

Esa ciudad , al igual que otras, tiene muchos habitantes, y cada uno de ellos tiene su própio mapa de la ciudad en la cabeza. Los mapas que guian los movimientos de las diversas categorias de habitantes no se superponen, pero para que un mapa “tenga sentido”, algunas áreas de ciudad  deben ser descartadas, ser carentes de sentido y – en lo que al significado se refiere – ser poco prometedoras. Recortar esos lugares permite que los demás brillen estén colmados de sentido.[…] El vacío del lugar está en el ojo de quién lo contempla y en las piernas del habitante o en las ruedas de su auto. Son vacíos los lugares en los que no encontramos y em los que nos sentiríamos perdidos y vunerables, sorprendidos, alarmados y un poco asustados ante la vista de otros seres humanos. (BARMAN, 2006 p.113)

 

A segunda é sobre a mudança de valores e significados que os espaços públicos e/ou históricos estão sofrendo na sociedade capitalista. O que outrora representava apenas memória viva e de vida, hoje, são utilizados como produtos mercadológicos, dentro da lógica de mercado que minimiza os sentidos dos lugares, resumindo-os a simples produtos ou imagens para o consumo. Essa lógica empobrece o sentido integral do que representa a Praça Universitária.

De volta a trilha. Continuamos, todos os envolvidos, trilhando, desnudando a Praça Universitária e desvendando sua paisagem. Cantamos, dançamos e fomos porta-vozes de diversas e diferentes histórias (oficiais e reais), territorialidades e instituições que a compõem. Vivenciamos a imaterialidade na materialidade. Sabíamos que naquele espaço-tempo estávamos sendo produto e (re) produtor social e que novos olhares sobre a Praça Universitária nos foram revelados.

Ao final da trilha, ao realizarmos uma dinâmica para avaliar o grau de sua eficiência - já que o objetivo era descentralizar o conhecimento e despertar o olhar desses jovens para as histórias sociais, culturais e espaciais da Praça Universitária - tivemos a comprovação que a trilha é um instrumento metodológico capaz de conectar saberes, visto que, tanto para nós - os mediadores - como para eles - os trilheiros – (re) significamos as interpretações e os olhares sobre a Praça Universitária. Para nós, a praça também significava um “não lugar”; para eles, passou a ter um sentindo histórico e cultural.

 

 

2. OBJETIVOS E METAS

 

2.1 GERAL

 

• Realizar a conexão entre escola e cultura, por meio, de cursos e ações de extensão - direcionada aos professores de geografia da rede estadual de ensino – tendo a trilha interpretativa como um instrumento metodológico.

 

 

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 

 

• Formar agentes multiplicadores capacitados na elaboração, reflexão e prática de atividades educativas com as Trilhas Interpretativas ;

 

• Conceber, montar e realizar 4 Trilhas Interpretativas: na Praça Universitária e na Colônia Santa Marta;

 

• Conceber, montar e realizar Trilhas Interpretativas, a partir da vivencia e da experiência dos docentes participantes do curso;

 

• Descentralizar a pesquisa e o conhecimento produzido na academia;

 

• Estreitar as relações entre a universidade e a sociedade, no intuito de construir alternativas de conexões de saberes;

 

• Promover ações que possibilite a integração e interação, no intuito de romper com a fragmentação entre teoria e prática, oficial e real, material e imaterial, ensino-pesquisa-extensão.

3. METODOLOGIA

A metodologia se baseia na concepção da análise integrada (material e imaterial) dos fenômenos socioculturais no processo de ocupação e apropriação dos espaços urbanos (CHAVEIRO, 2007; PELÁ, 2007) como a Praça Universitária e a Colônia Santa Marta.

E Como já dissemos anteriormente o projeto prima pela integração e interação entre ensino, pesquisa e extensão. Desde da concepção teórica, a metodologia implementada até as ações práticas do projeto são concebidas nesta perspectiva. Pois, entendemos a extensão como possibilidade de conexões de saberes e desenvolvimento de pesquisas que permitam a construção de uma analise integrada da sociedade.

Sendo assim, este projeto é a possibilidade de implementação de uma experiência que promoverá, de fato, uma ação baseada nos pilares que fundamentam o processo de ensino-aprendizagem.

 

 

Os cursos serão formatado da seguinte forma:

 

  • Primeiro momento se dará a fundamentação teórica, espaço de diálogo, encontro com as realidades dos participantes numa espécie de mapeamento, o levantamento e a revisão bibliográfica sobre os espaços onde se darão as trilhas, e sobre a importância das Trilhas Interpretativa como possibilidade em práticas educativas.

 

  • Um segundo momento se dará como espaço de experimentação, buscando a prática a fim de transcender as reflexões teóricas. É neste momento, que propomos a concepção, elaboração e realização das Trilhas Interpretativas pelos próprios alunos e orientadores, buscando a partir das percepções, sentidos e sentimentos, expressar seus conhecimentos e pontos de vista. Caminhando, reconhecendo a morfologia e o cotidiano dos diversos e diferentes sujeitos culturais que compõem e vivenciam esses espaços, mapeando lugares e paisagens de preferência, analisando e interpretando dados socioespaciais encontrados no movimento, desenho dos trajetos e percursos a serem compartilhados como escrita de mundo.

 

Ações:

 

a) Aproximação e criação de um espaço de diálogo entre os proponentes da oficina e os alunos participantes do Projeto;

b) Aulas teóricas discutindo as concepções de Trilhas Interpretativas, sua história, os usos, bem como o entendimento conceitual da ação de trilhar;

c) Concepção, criação e realização das Trilhas Interpretativas da Praça Universitária e da Colônia Santa Marta;

d) Mapeamento dos pontos paisagísticos de interesse, mirantes e paradas nas Trilhas, partindo dos sentidos e sentimentos dos trilheiros;

e) Criação de uma narrativa pelos alunos acerca de suas experiências nas Trilhas, e avaliação do curso; 

f) Concepção, criação e realização das Trilhas Interpretativas pelos alunos;

g) Realização de oficinas e espaços de diálogos;

e) Avaliação continua e processual.

f) realização de s reuniões de trabalho, com os parceiros de outras instituição  para ajustes metodológicos e discussão sobre os resultados preliminares;

 

 

4. RESULTADOS ESPERADOS

 

·         Formação de 100 professores de geografia da rede de ensino estadual no curso Trilha Interpretativa: um instrumento de conexões de saberes;

 

·         Estreitamento da relação entre a universidade e a Sociedade;

 

·         Produção de um vídeo didático que permitirá difundir o projeto e descentralizar o conhecimento;

 

·         Produção de artigos acadêmicos,

 

·         Produção de relatório Técnico;

 

 

 

5. ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO

 

Como já dissemos o curso terá uma avaliação processual e continua. Para viabilizar este ação o projeto contará com uma equipe de coordenação composta por membros de cada uma das entidades parceiras. Caberá a coordenação conceder, implementar, administrar e avaliar o curso e ação de extensão.

Os cursos são divididos em duas partes:

 

Programa do curso e da ação de extensão

 

1ª PARTE - Curso - teoria e prática

 

  • A importância da trilha como conexão de saberes

 

  • A trilha e o ato de trilhar

 

  • Trilhando na Praça Universitária

 

  • Pensando o ato de trilhar: metodologias e fundamentos;

 

  • Os desafios do aprendizado significativo em vivencias de Grupo e na escola;

 

  • A relação escola e cultura em uma perspectiva interinstitucional;

 

  • Trilhando na Colônia Santa Marta;

 

  • Pensando e organizando o ato de trilhar;

 

2ª PARTE - Ação de extensão

 

  • Concepção, organização e realização de Trilhas Interpretativas pelos participantes;

 

  • Serão divididos dois grupos que terá orientação direta dos professores para está etapa;

 

  • Espaço de dialogo final para conclusão e avaliação do curso.

 

 

6. INFRAESTRUTURA

O IESA - UFG sediará esse projeto. As ONGs, também, disponibilizarão recursos humanos e infra-estrutura para o desenvolvimento do projeto, pois ora desenvolveram atividades com o Iesa, ora em suas instituições de origem. À Secretária Estadual de Educação, além da contribuição material, caberá mobilizar professores da educação média para participar do cursos.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

ALMEIDA, Maria Geralda. Em busca do poético: um estudo de representações. In: ALMEIDA, Maria Geralda; RATTS, Alessandro JP (Org), Geografia: leituras Culturais. Goiânia: Alternativa, 2003, pp.71-88.

 

BARROS, M. Ensaios Fotográficos. Rio de Janeiro: Record, 2000.

 

BARTHES, R. A aventura semiológica. Tradução: Mário Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

 

CERTEU, M. de. A invenção do cotidiano: arte de fazer. Tradução: Ephraim Ferreira Alves. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.

 

CHAVEIRO, Eguimar Felício. Goiânia, travessias sociais e paisagens cindidas. Goiânia: Ed. da UCG, 2007.

 

CLAVAL. Paul. Campo e Perspectivas da Geografia Cultural. In. Geografia Cultural: Um século (3). ROSENDAHL, Zeny e CORRÊA, Roberto Lobato (Orgs.). Rio de Janeiro: Ed. Uerj, 2002, pp. 133-187.

 

GREGOLIN, M.R; BARONAS, R. (orgs). Análise do discurso: as materialidades do sentido. São Carlos, SP: Claraluz, 2001.

 

GUIMARÃES, Solange Teixeira de Lima. Trilhas interpretativas e vivências na natureza: reconhecendo e reencontrando nossos elos com a paisagem. In:  www.ambiente.sp.gov.br/ea/adm/admarqs/Solange_Guimaraes01.pdf. Acesso em 10/11/2007.

 

ORLANDI, E.P. Cidade dos Sentidos. Campinas, SP: Pontes, 2004.

__________. Os recursos do futuro: um outro discurso. Disponível em < http://www.multiciencia.unicamp.br/art05.htm>.Acessado em 17 de set. 2008.

 

PELÁ, Márcia Cristina Hizim. Goiânia: o mito de uma cidade planejada.  Dissertação (Mestrado em Geogr

 

PAZ, O. El arco y la lira. México: Fondo de Cultura Económica, 1985.

 

SANTOS, C. C.; PINTO, A.B.C. Potência de ação. In: Encontros e caminhos: formação de educadoras (es) ambientais e coletivos educadores. Júnior, L.A. F (org). Brasília: MMA, Diretoria de Educação Ambiental, 2005. p.297 a 302.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: Laboter / IESA / UFG